segunda-feira, 27 de outubro de 2014

ÉTICA E MEIO AMBIENTE NA ADOLESCÊNCIA

Selma Aparecida Groff

RESUMO: Este artigo reflete e discute o significado da ética para o adolescente, a relação entre a ética e o meio ambiente, a descoberta do corpo como meio ambiente, a importância de respeitar a si e aos outros. Refletiu-se também sobre a capacidade de transformar-se para então transformar o outro, consciente que se transformar o outro poderá transformar o mundo que o cerca, que cada um deve fazer a sua parte e com essa visão fortalecer valores e atitudes.

Palavras-chave: Ética. Meio ambiente. Adolescência.

ABSTRACT: This article discusses the significance of ethics for the teen, the relationship between ethics and the environment, the Discovery of the body such as the environment, the importance of respecting themselves and others. Also reflected on the ability to turn to then transform the other, become aware that the other can transform the world around you , that every one must do his part and with this view to strengthen values and attitudes .


1 INTRODUÇÃO

O desejo de cuidar de si, do outro e do nós desperta em sujeitos saudáveis a noção de solidariedade e de cidadania. Nisso consiste a ética das relações entre as pessoas. Valorizar a própria vida, o cuidado pessoal, é poder ter a noção do valor da vida do próximo. É esse cuidar que o psicólogo e psicoterapeuta Ivan Roberto Capelatto considera essencial para que possamos ajudar a construir Seres Humanos. Professores e pais são imprescindíveis nesse processo.
Sendo a educação um processo de construção de identidades, que Educar sob inspiração da ética não é transmitir valores morais, mas criar as condições para que as identidades se constituam pelo desenvolvimento da sensibilidade e pelo reconhecimento do direito à igualdade, os jovens necessitam de orientação de condutas por valores que respondam às exigências do seu tempo. Uma das formas pelas quais a identidade se constitui é a convivência e, nesta, pela mediação de todas as linguagens que os seres humanos usam para compartilhar significados.
O Novo Ensino Médio Prioriza a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico. O que se deseja é que os estudantes desenvolvam competências básicas que lhes permitam desenvolver a capacidade de continuar aprendendo dentro de uma perspectiva interdisciplinar.


2 DESENVOLVENDO ÉTICA E MEIO AMBIENTE.

Trazer a ética para o espaço escolar significa enfrentar o desafio de instalar no processo de ensino e aprendizagem que se realiza em cada uma das áreas do conhecimento, uma constante atitude crítica, de reconhecimento dos limites e possibilidades dos sujeitos e das circunstâncias, de problematização das ações e relações e de valores e regras que os norteiam. Nesse sentido, iniciamos esse processo com várias problematizações: Afinal o que é ética para o adolescente? O que é meio ambiente? E como eles entendem a relação entre eles? Partindo desses questionamentos e através de debates e pesquisas analisou-se a ética de várias formas.
A Ética tem por objetivo facilitar a realização das pessoas. Que o ser humano chegue a realizar-se a si mesmo como tal, isto é, como pessoa. (...) A Ética se ocupa e pretende a perfeição do ser humano (Clotet, 1986). Uma das formas pelas quais a identidade se constitui é a convivência. E foi através do sentido da convivência que se desenvolveu todo o conhecimento de ética e do meio ambiente. Partindo do principio que convivência é o modo de vida em que se pode partilhar; vida em comum; convívio diário, ação de coexistir (num mesmo local) de maneira harmoniosa, levantou-se a questão: Como podemos conviver com o outro sem o conhecimento da ética? Podemos definir ética como: sensibilizar-se pela necessidade de construção de uma sociedade justa, adotar atitudes de solidariedade, cooperação e repúdio às injustiças sociais e o tema meio-ambiente proporcionará a percepção da necessidade de mudanças e um posicionamento crítico diante de si e do mundo que o cerca.

Os alunos pesquisaram e escolheram a ética como valores que definem o que eu quero o que eu posso e o que eu devo fazer, pois nem tudo que eu quero eu posso, nem tudo que eu posso devo, nem tudo que eu devo eu posso, como também ser ético nada mais é do que agir direito, proceder bem, sem prejudicar os outros. É ser altruísta, é estar tranquilo com a consciência pessoal. Ética é tudo que envolve integridade, respeito, é ser honesto em qualquer situação, é ter coragem para assumir seus erros e decisões, ser tolerante e flexível, ser responsável pelos seus atos, ser Leal, sentir-se um cidadão, viver com Transparência.
De todos os valores já citados, o Respeito foi o mais debatido. Será que sabemos o que é respeito? O que é respeitar alguém ou algo? A palavra Respeito vem do latim respectus que é um sentimento positivo e significa ação ou efeito de respeitar, apreço, consideração, deferência. Por ser considerado um sentimento O respeito é um dos valores mais importantes do ser humano e tem grande importância na interação social. O respeito impede que uma pessoa tenha atitudes reprováveis em relação à outra. Uma das importantes questões sobre o respeito é que para ser respeitado é preciso saber respeitar, o que em muitos casos não acontece. Como podemos respeitar o outro se não nos respeitarmos? O que é respeitar a si mesmo? Respeitar a si mesmo está relacionado ao cuidado com o meio ambiente “corpo e mente”, ou seja, se há cuidado com o corpo e a mente, esse cuidado reflete no cotidiano da sua vida pessoal e social.
Respeitar não significa concordar em todas as áreas com outra pessoa, mas significa não discriminar ou ofender essa pessoa por causa da sua forma de viver ou suas escolhas (desde que essas escolhas não causem dano e desrespeitem os outros). O respeito também pode ser um sentimento que leva à obediência e cumprimento de algumas normas (por exe.: respeito pela lei). Falar sobre um tema com respeito (como diferentes religiões, crenças e condutas) é falar de forma ponderada e sensível. Na relação com o outro, os alunos concluíram que: “viver o respeito é o ato de não fazer ao outro o que jamais gostariam que fizessem com a eles. É dar espaço para que os outros expressem suas opiniões, sem discriminações ou punições, é não maltratar pessoas, animais, natureza... Simplesmente porque nos consideramos certos ou melhores.”.
Trabalhou-se o que é meio ambiente, partindo do ambiente micro para o meio ambiente macro. O corpo como meio ambiente é ignorado pelos adolescentes. Quando questionados sobre o que é meio ambiente, citaram os biomas, o meio ambiente macro. Não relacionam o meio ambiente com a vida pessoal, cotidiano e convivência. Na vida pessoal, há um contexto importante o suficiente para merecer consideração específica, que é o do meio ambiente, corpo e saúde. Com a busca do autoconhecimento e cuidados com o corpo físico e mental o jovem terá condições de identificar fatores de riscos, tais como: os perigos das drogas, principalmente a bebida alcóolica; da alimentação inadequada, gravidez precoce, bullying, vícios em jogos (vídeo game, computador e celular), rede social, os perigos na perda da audição em ouvir som alto ou não via celular, entre outros.
Considerando esse contexto de sensibilização, o aluno terá a capacidade de transformar o seu meio ambiente micro, transformando-se como pessoa e macro, o qual está inserido seja do lar ou escolar, como por exemplo: reorganizar um espaço ocioso em utilitário ou ainda cuidando e transformando-o esteticamente. No decorrer desse processo, o aluno terá o oportunidade de conhecer dois ambientes, os quais fortalecerão a teoria trabalhada. Conhecerá o espaço SOS Mata Atlântica e o Projeto Catavento, espaço onde conhecerá tudo sobre prevenção de drogas e gravidez na adolescência. De modo que, perceberá a relação que se dá no cuidado do corpo e da mente, compreendendo que a saúde física e mental é produzida no meio físico e social. Necessitando então, adotar hábitos saudáveis e conscientes.

2.1 PROTAGONISMO JUVENIL, UMA OPORTUNIDADE!

No Projeto Ética e Meio Ambiente, os alunos tiveram a oportunidade de planejar, criar, pesquisar e apresentar slides, vídeos, teatro, dramatização, seminários, entrevistas, montagem de clip, criação de letras de músicas, poemas, paródias, jornal, dinâmicas e entre outras sobre os temas propostos. Os alunos apresentaram para todas as turmas o significado e a reflexão sobre ética e meio ambiente, visando o bem estar físico e mental. A ideia de pesquisar sobre as plantas medicinais e a formação do jardim sensorial para exposição na escola surgiu pensando na prevenção de doenças, ou seja, cuidado com o corpo e a modificação de um ambiente ocioso, tornando-o utilitário, como também mostrar para todos os alunos, o significado e a importância de cada planta pesquisada.

A ação protagonista busca transformar uma realidade que precisa ser mudada. Protagonismo juvenil é a participação consciente dos adolescentes em atividades ou projetos de caráter público, que podem ocorrer no espaço escolar ou na comunidade: campanhas, movimentos, trabalho voluntário ou outras formas de mobilização. Para Costa, 2001, no protagonismo juvenil democrático os jovens transcendem o universo de seus interesses puramente particulares e se defrontam com questões de interesse coletivo. Exercitam sua cidadania ao mesmo tempo em que contribuem para o desenvolvimento da comunidade. Do ponto de vista educacional, o estimulo ao protagonismo juvenil se justifica, sobretudo, como forma de desenvolvimento da experiência democrática na vida dos jovens.
A ação protagonista do jovem adolescente, de maneira individual ou em grupo, visa buscar soluções de problemas reais, em atuação de iniciativa, liberdade e compromisso, com participação autêntica no contexto escolar, podemos citar várias ações desenvolvidas como: ações de transformação do ambiente físico escola, limpeza e conservação.
O jovem protagonista surge como fonte de atuação, pois é dele que parte a iniciativa, como foco de liberdade, porque a sua ação é pautada em uma decisão consciente e de compromisso, na medida em que o jovem responde por seus atos. “No protagonismo juvenil a participação do jovem deve ser uma iniciativa legítima e não simbólica, onde são criadas oportunidades para que o estudante possa procurar, ele próprio, a construção de sua identidade.” (Costa, 2001).
O aluno enquanto protagonista da ação educativa deve buscar a procedência dos acontecimentos, agindo de maneira efetiva na sua produção, deve decidir produzir, questionar e buscar soluções, assim estimulando o seu crescimento pessoal e ativando a cidadania no compromisso do processo interativo de responder pelos seus atos, assumindo a responsabilidade de suas ações.

2.2 O PAPEL DO PROFESSOR NESSE PROCESSO.

Para desenvolver o protagonismo, o professor deve atuar como líder, organizador, pesquisador, facilitador criativo e coautor participativo dos acontecimentos. Nesse projeto priorizou-se a ação dialógica do professor, desafiando o aluno a pensar sobre várias questões relacionadas aos temas propostos, auxiliando o entendimento da importância da sua ação, que envolve respeito, dedicação, busca, engajamento, pesquisa, troca, participação, descoberta.

O trabalho docente torna-se um contínuo reexaminar, experimentar e remodelar, uma ação-reflexão-ação. No Projeto Ética e Meio Ambiente o professor registrou todo o processo através de portfólio, fotos, slides, pesquisas e produções de textos. A pesquisa educacional requer do educador uma postura de investigação e de questionamento, baseada sobre alguns princípios, tais como senso de responsabilidade, senso cooperativo, sociabilidade, julgamento pessoal, autonomia, expressão, criatividade, comunicação, reflexão individual e coletiva, assim como desenvolvimento da afetividade.

2.3 UM PROJETO INTERDISCIPLINAR.

Os temas: ética e meio ambiente foram trabalhados dentro de um projeto interdisciplinar, não perdendo de vista que a interdisciplinaridade e os projetos interdisciplinares relacionam o conhecimento com a realidade, o educador e o educando, a teoria e a ação, respeitando as individualidades e as condições sociais. A interdisciplinaridade representa um meio para superação da fragmentação do conhecimento, possibilitando análises menos parciais da realidade, consonantes à concepção de educação emancipadora considerando os aspectos socioculturais, econômicos e ambientais.
A interdisciplinaridade é um movimento que se aprende praticando, vivendo, não se ensina; portanto exige-se um novo posicionamento diante da prática educacional e da vida, pois a interdisciplinaridade é o motor de transformação, de mudança social, em que a comunicação, o diálogo e a parceria são fundamentais para que ela ocorra.
É preciso integração, o momento da interdisciplinaridade em que há a organização das disciplinas, num programa de estudos, é o conhecer e relacionar conteúdos, métodos e teorias, é integrar conhecimentos parciais e específicos em busca da totalidade do conhecimento. Referimo-nos a uma integração do conhecimento no movimento de (re) construção que, através de novos questionamentos, novas buscas, transformam o entendimento da realidade presente.
Para Fazenda (2003), a interdisciplinaridade se apoia na tríade, formada pelo sentido de ser, de pertencer e de fazer. “A ação do educador será a de decifrar com o educando as coisas do mundo das quais ambos são participantes”. (FAZENDA, 2003, p. 38).
Neste diálogo entre professor e aluno, ambos poderão conhecer a si, o outro e o mundo. Esse conhecimento se dá por meio da palavra e da ação. O fazer interdisciplinar possibilita um olhar mais atento para o cotidiano escolar e para o favorecimento de partilhas, das parcerias entre pessoas, alunos, entre a teoria e formas de conhecimento.
A interdisciplinaridade é uma ação que requer criticidade, convivência com as incertezas, contradições e ambiguidades, a reflexão sobre a realidade de tal modo que contribua para a formação de cidadãos capazes de modificarem seu entorno social, cultural e natural. É a superação da linearidade e da fragmentação do ensino.
Interdisciplinaridade é, portanto, uma nova maneira de ver o mundo, de pensar, que resulta em troca de diferentes áreas do conhecimento, visando à produção de novos conhecimentos.

2.4 AVALIAÇÃO INTERDISCIPLINAR.

A atitude reflexiva sobre o olhar interdisciplinar da avaliação é a única forma de melhorarmos a nossa prática. Nesse sentido a reflexão sobre avaliação no Projeto Ética e Meio Ambiente deve objetivar que os alunos aprendam mais e melhor o que demanda uma mudança de postura por parte do professor e da comunidade educacional como um todo. Sendo assim, grandes desafios esperam por nós professores e grandes são as mudanças que a avaliação escolar necessita para comportar a inteireza dos sujeitos em seu processo de formação dos saberes.
Para Rabelo (1998, p. 21):
Uma avaliação só é produtivamente possível se realizada como um dos elementos de um processo de ensino e de aprendizagem que, estejam claramente definidos por um projeto pedagógico. Do mesmo modo, as alterações no processo de avaliação poderão conduzir a uma transformação de ensino.
São a partir destas possibilidades que voltamos os nossos olhares sobre um contexto ampliado da avaliação educacional, um olhar interdisciplinar como Gaeta (2002, p. 224) o descreve:
Um olhar de dentro para fora e de fora para dentro, para os lados, para os outros. Um olhar que desvenda os olhos e, vigilante, deseja mais do que lhe é dado ver. Um olhar que transcende as regras e as disciplinas, olhar que acredita que só existe o mundo da ordem para quem nunca se dispôs a olhar! Um olhar inflado de desejo de querer mais, de querer melhor, um olhar que recusa a cegueira da consciência.
O Projeto Ética e Meio Ambiente foi desenvolvido coletivamente, objetivando a transformação da assimilação passiva pela assimilação crítica. Todo registro pelo professor baseou-se em portfólio, fotos, slides, pesquisas e produções de textos. Um dos objetivos principais é que o adolescente trate seu corpo físico e mental, como o meio ambiente mais importante, ou seja, deverá conhecer e cuidar do próprio corpo, valorizando-o, adotando hábitos saudáveis e pensamentos construtivos.

REFERÊNCIAS

Capellato, Ivan Roberto. Educação com afetividade. Pisco, 2011
Clotet J. Una introducción al tema de la ética. Psico 1986; 12(1)84-92.
FAZENDA, Ivani Catarina. Arantes. Interdisciplinaridade: qual o sentido? São Paulo: Paulus, 2003.
GAETA, Cecília. In: FAZENDA, Ivani. (Org.). Dicionário em Construção: Interdisciplinaridade. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2002.
GOMES DA COSTA, Antonio Carlos. Tempo de servir: o protagonismo juvenil passo a passo; um guia para o educador. Belo Horizonte: Editora Universidade, 2001.
MEC - Parâmetros Curriculares Nacionais. O Novo Ensino Médio. 2000
PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS: TEMAS TRANSVERSAIS. Brasília: MEC/SEF, 1998; 96-104-108-201-233-275.
Mello, Guiomar Namo. Diretrizes Curriculares para o Ensino Médio: Por uma escola vinculada à vida. Maio\1999
RABELO, Edmar Henrique. Avaliação: novos tempos, novas práticas. Petrópolis: Vozes, 1998.
Zagury, Tania. O adolescente por ele mesmo. Rio Janeiro, 2001
http://michaelis.uol.com.br/. Acesso dia 21/09/14

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