A História Da Leitura No Mundo Ocidental
(Roger Chartier e Guglielmo Cavallo)
Na obra História da
Leitura no Mundo Ocidental 1, Guglielmo Cavallo e Roger Chartier reconstituem a
evolução da leitura e das diversas formas de ler que caracterizam as sociedades
ocidentais. Remontam a história da leitura desde a Antiguidade grega e
helenística, passando por Roma, Idade Média e Idade Moderna. Já na introdução
da obra, os historiadores afirmam que um texto existe porque há um leitor para
dar-lhe significação, e que todos aqueles que leem textos, o fazem de maneiras
diferentes, ou seja, para cada comunidade de leitores existem maneiras de ler e
interpretações diferenciadas."A leitura não é apenas uma operação
abstrata: ela é o uso do corpo, inscrição dentro de um espaço, relação consigo
mesma ou com os outros". Na Antiguidade grega a escrita é colocada a
serviço da cultura oral e da conservação do texto, onde a leitura era feita por
poucos alfabetizados. A partir da época helenística, a literatura passa a
depender da escrita e do livro, cujo formato padrão era o volumen ou rolo,
dando início à uma nova organização na produção literária. Surgem as grandes
bibliotecas helenísticas que representavam muito mais sinais de grandeza e de
poder, do que propriamente a difusão da leitura. Roma herda do mundo grego a
estrutura do volumen e as práticas de leitura. A leitura é um hábito exclusivo
das classes privilegiadas, dando origem às bibliotecas particulares, símbolos
de uma sociedade culta. O códex, um livro com páginas, substitui o rolo a
partir do século II d.C, e essa transformação do livro trás em si, novas
práticas leitoras. Durante a Idade Média, a prática da leitura concentrou-se no
interior das igrejas, das celas, dos refeitórios, dos claustros e das escolas
religiosas, geralmente restritas às Sagradas Escrituras. Com o códex, na Alta
Idade Média surge a maneira silenciosa de ler, sobretudo textos religiosos que
exigiam uma leitura meditativa. Entre os séculos XI e XIV, quando renascem as
cidades e com elas as escolas, desenvolvendo a alfabetização, surge uma nova
era da história da literatura, pois o livro passa a representar um instrumento
de trabalho intelectual, de onde chega o saber. Ao mesmo tempo inovam-se os
modelos de biblioteca, cujo espaço organizado e silencioso é destinado à
leitura. É nessa época que aparece o livro em língua vulgar, escrito às vezes
pelo próprio leitor, e que circula entre a burguesia, paralelo a um modelo de
leitura da corte, da aristocracia culta européia. Na Idade Moderna a prática da
leitura no mundo ocidental está vinculada às evoluções históricas, à
alfabetização, à religião e ao processo de industrialização. A técnica da
reprodução de textos, e produção de livros, são inovados por Gutemberg; o que
permite que cada leitor tenha acesso a um número maior de livros. Além disso, a
grande revolução da leitura acontece pelo modelo escolástico da escrita, onde o
livro se transforma num instrumento de trabalho intelectual. A leitura
silenciosa se estabelece através da relação íntima, secreta e mais livre do
leitor com o livro, tornando mais ágil a leitura. Surge aqui, o "leitor
extensivo"; que consome numerosos impressos, diferentes e efêmeros, lendo
com rapidez e sob um olhar crítico. A difusão do livro se dá mais rapidamente,
nascendo o romance com a capacidade de envolver o leitor, geralmente a leitora;
que nele se identifica e decifra sua própria vida. A leitura de cordel, os
textos de venda ambulante fomentam o crescimento da produção de livros e a
proliferação de livrarias, que são responsáveis por uma mudança de mentalidade,
principalmente na França.
Ótimo resumo da obra.
ResponderExcluir